Entrevista

“A Embrapa é referência também no cenário internacional”

Presidente Celso Moretti se despede do cargo após as comemorações dos 50 anos da empresa

Jorge Duarte - Especial DP - Despedindo-se do cargo, Moretti avalia que um novo concurso deve ser uma prioridade dos seus sucessores

No dia 26 de abril, a Empresa Brasileira de Agropecuária (Embrapa) completou 50 anos de atividades. Em maio, a empresa terá uma nova presidente, a pesquisadora Silvia Maria Fonseca Silveira Massruhá, primeira mulher a comandar a empresa. As comemorações foram coordenadas pelo ainda presidente Celso Luiz Moretti, nomeado no final de 2019 pela então ministra Tereza Cristina (Agricultura), no governo Bolsonaro (PL). Agora, ele se despede do cargo. Em conversa com o DP, Moretti conta um pouco sobre a sua trajetória na empresa, fala sobre a transição e faz um balanço do seu mandato.


Diário Popular - O Município de Pelotas possui três unidades da Embrapa, a sede administrativa, que completa 30 anos em 2023, a Estação Terras Baixas, com 85 anos de atividades e a Cascata, com 80. Qual a importância e a contribuição destas unidades para a pesquisa agropecuária brasileira?  

Celso Moretti - A Embrapa Clima Temperado é um centro ecorregional, que abriga quatro bases físicas. Na sede são realizadas pesquisas com planejamento ambiental e territorial, recursos naturais, recursos genéticos, frutas, hortaliças, bioinsumos e agroenergias; a Estação Experimental Terras Baixas foca em grãos, integração Lavoura-Pecuária (ILP), forrageiras e pecuária leiteira; a Estação Experimental Cascata se dedica à agricultura familiar e a sistemas de produção de base ecológica; e a Estação Experimental de Canoinhas (SC), atua como hub de transferência de tecnologia. Além disso, participa de uma Unidade Mista de Pesquisa e Transferência de Tecnologia em Francisco Beltrão (PR), junto a Universidade Tecnológica Federal do Paraná e Instituto Agronômico do Paraná. Possui 24 laboratórios e 252 empregados. As atividades de pesquisa estão organizadas em seis Núcleos Temáticos. As principais contribuições nos últimos 50 anos seguem a categorização de diversos núcleos de trabalho, como os de Agroecologia e Produção Orgânica; Grãos; Hortaliças; Fruticultura; Pecuária; Recursos Naturais; o Agromet...

DP - O que mudou no cenário agropecuário brasileiro após a criação da empresa e como você vislumbra o futuro de suas unidades? Quantas são e onde estão localizadas?

CM - A criação da Embrapa, sem dúvida, representou a transformação do cenário do agro nacional. O Brasil, até então, um País importador de alimentos, graças à revolução impulsionada pela ciência, assumiu uma das mais importantes posições entre os maiores produtores mundiais. O conhecimento, a tecnologia e a inovação foram os responsáveis pelo reconhecimento que a pesquisa nacional conquistou mundialmente. Ainda hoje, avanços são feitos em cenários desafiadores de enfrentamento das mudanças climáticas e da insegurança alimentar, com sustentabilidade. A Embrapa tem 43 unidades, localizadas em todas as regiões e biomas brasileiros - todas trabalhando no desenvolvimento de pesquisas que contribuam com o atendimento de demandas da sociedade e das principais cadeias produtivas, com foco na produtividade, na competitividade, na qualidade e, claro, na sustentabilidade. Para o futuro, o que se espera é reforçar cada vez mais a capacidade de antecipação das demandas e oferecer ainda mais entregas e inovações tecnológicas à sociedade, em resposta ao investimento público feito na pesquisa, em nome de cada cidadão brasileiro.

DP - Como tem sido a valorização do trabalho da Embrapa pelos governos ao longo destes anos e o que se espera do atual governo recém empossado?
CM - Sem dúvida, a Embrapa ocupa lugar de destaque no contexto da pesquisa agropecuária brasileira e é referência também no cenário internacional. A empresa tem contribuído muito subsidiando a proposição e a elaboração de políticas públicas, a disseminação de conhecimento aos segmentos do setor produtivo, a geração de empregos, entre outros impactos positivos para o País e por tudo isso há valorização do seu trabalho, que eleva a imagem brasileira dentro e fora do território nacional. Em função disso, a expectativa é sempre muito positiva, principalmente porque, no passado, já houve demonstrações de apoio e reconhecimento aos resultados da ciência agropecuária brasileira, que responde a todo investimento de recursos, revertido em benefícios à sociedade.

DP - E a distribuição dos recursos? O orçamento da empresa e unidades tem aumentado ou diminuído ao longo dos anos? Como as unidades fazem para driblar os recursos escassos e apresentar um trabalho de qualidade?

CM - Na verdade, temos que admitir que os recursos nunca são suficientes para fazer todo o trabalho que gostaríamos de fazer. Recentemente, em dois anos de pandemia, houve redução de recursos. A Embrapa depende da verba do governo federal. E esse tem sido um dos maiores desafios da gestão da Empresa: trabalhar para reduzir essa dependência. Apesar de a Embrapa ter um orçamento de R$ 3,7 bilhões, podemos dizer que o Brasil ainda investe pouco em pesquisa e desenvolvimento, ou seja, cerca de 1,3% do seu PIB. Só para citar como exemplos, a Coreia do Sul chega a 3,5%; e Israel, quase 4%.

DP - Em termos de capital humano, pesquisadores e demais colaboradores da Embrapa são suficientes para o desempenho das atividades das unidades ou há lacunas que precisam ser preenchidas?

CM - Nesses últimos anos, a Embrapa teve uma redução considerável de pessoal. O último concurso expirou em 2014 e de lá para cá não houve contratações. Fizemos um programa de demissão incentivada em 2019, quando cerca de 1.180 empregados deixaram a Empresa. Não há dúvidas de que precisamos, sim, de um novo concurso, que deverá estar entre as prioridades da próxima diretoria.

DP - Qual foi o seu maior desafio ao longo do seu mandato e qual a mensagem que deixaria para a sua sucessora?

CM - Um grande desafio, não só meu, como de todos os presidentes de uma empresa com o porte e a representatividade da Embrapa, é não só atender às demandas da sociedade, mas se antecipar, caminhar sempre à frente, fazer para que haja condições para que a pesquisa se desenvolva e cumpra a sua missão. Em cenários cada vez mais desafiadores, aos 50 anos, a Embrapa consolidou a maturidade de uma empresa que é referência, mas reconhece a importância e o valor das parcerias. Trabalhamos com foco na meta de que, mais do que nunca, é necessário investir em estratégias sustentáveis que contribuam com a garantia de produção de mais alimentos, usando menos energia e água. Para que haja saúde e segurança alimentar para a população dos países, serão necessários novos conceitos na produção de alimentos, baseados na sanidade animal, na saúde humana, na segurança dos alimentos e na sustentabilidade. Estaremos diante de uma realidade sempre nova em termos populacionais, de urbanização, de longevidade e de padrões de consumo e a Embrapa precisa estar pronta para fazer sua parte.

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